‘"Hoje não consigo segurar uma folha de papel sulfite. Tenho dificuldade para realizar atividades básicas"

O depoimento acima é da bancária maringaense Ivonilde Alves de Oliveira aposentada aos 43 anos de idade no final de 1998 depois de dois anos afastada do trabalho período em que lutou para se recuperar de uma das doenças mais comuns entre os bancários a LER (Lesão por Esforço Repetitivo) ou mais recentemente também denominada DORT (Doenças Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho).

Situação semelhante vive Eliana Maria Gomes (foto) que há 15 anos faz tratamento contra a doença. Hoje aos 53 anos já passou por pelo menos 10 cirurgias. "O mais importante eu perdi que é minha saúde. Essa não recupero mais" lamenta. Atualmente além de todas as limitações que a doença impõe toma remédio até para dormir e faz tratamento psiquiátrico.

Em Maringá casos como o de Ivonilde e Eliana não são isolados. é cada vez maior o número de profissionais que estão afastados em decorrência do problema. E o que é ainda pior: há outro número incalculável de bancários que escondem a doença vivendo à base de remédios com medo de perder o emprego.

Histórias

Ivonilde contra que começou a trabalhar no Banco do Brasil em 1975 tendo desenvolvido várias funções como caixa na área de digitação e lançamentos todas atividades repetitivas.

Em 1995 começou a sentir muita dor no braço esquerdo e cansaço. Chegou a tomar remédios e fazer fisioterapia para continuar trabalhando. Em maio do ano seguinte porém teve de pedir afastamento.

"Desde então não retornei mais ao trabalho. Não fui aceita nos processos de recuperação pois a doença era irreversível. Fazia perícias mensais mas não havia sinal de melhora. No final de 1998 fui aposentada" explica.

Ivonilde diz que na época esse tipo de doença do trabalho era de difícil diagnóstico. "Se tivesse mais informação um diagnóstico mais rápido uma mudança de função teria chance maior de recuperação" avalia.

Hoje a ex-bancária conta que tem dificuldade para realizar até as atividades mais básicas como segurar uma folha de sulfite ou pentear o cabelo. "Perdi inclusive as digitais dos dedos e a sensibilidade" comenta.

Drama
Já Eliana começou a trabalhar em 1980 em uma empresa do conglomerado Banespa. Desde o início realizou atividades que vieram a trazer graves consequências no futuro como escriturária supervisora e gerente administrativo utilizando telefone calculadora e digitação. De 1988 até 2004 quando foi afastada trabalhou no antigo Banespa adquirido em 2000 pelo Santander.

A doença se manifestou em 1998. "Como o trabalho era muito e havia poucos funcionários faltava tempo para realizar o tratamento que incluía sessões de fisioterapia" conta. Em 2000 a situação piorou com dores mais intensas e dificuldade para trabalhar. "O ápice foi em 2004 quando o médico pediu o meu afastamento."
No mesmo ano a bancária conta que já passou pelo primeiro procedimento cirúrgico um dos muitos que viria a fazer posteriormente.

A aposentadoria veio em 2007 junto com as limitações físicas como dificuldade até para segurar o secador de cabelo e realizar atividades básicas e o tratamento psiquiátrico inclusive com remédios fortes para dormir. "As dores intensas veem à noite" acrescenta. Ela sofre de dores no pescoço braços e mãos.

Atualmente a rotina de Eliana inclui fisioterapia acupuntura remédios entre outros procedimentos. Por conta disso ela move processos contra o INSS e o banco.
Da dedicação ao trabalho hoje Eliana tem apenas que lamentar a falta de sensibilidade e consideração da empresa. Além de ficar um ano e meio sem receber salários – nem do banco nem do INSS – percebeu logo que mesmo tendo dedicado toda sua vida ao trabalho recebeu apenas a indiferença.

"A gente vê muitos colegas com o problema mas não imagina que vai acontecer com a gente. Acho que hoje a situação é ainda pior pois a pressão tem aumentado. Muitos escondem com medo de serem demitidos. Quando percebem o erro que estão cometendo é tarde demais" lamenta. Para o banco é apenas mais um a ser substituído.

Bancários são as maiores vítimas

A categoria está em primeiro lugar em casos de Ler/Dort segundo pesquisa da Universidade Federal de Brasília em conjunto com o INSS/MPS. Entre as doenças classificadas como Ler/Dort os bancários respondem por 553% dos casos de tenossinovite; 556% das cervicalgia e 72% dos registros de síndrome cervicobraquial. Do total de benefícios de trabalho concedidos por doença mental 81% são do setor bancário.

Para se ter uma ideia da gravidade do problema segundo dados do Ministério da Previdência no Brasil dos 17.693 casos de doenças relacionadas ao trabalho em 2009 10.867 configuram LER/DORT. Os setores mais atingido foram os da atividade financeiras (116%) e comércio e reparação de veículos automotores (11%). Os números não incluem os casos de LER/DORT ocorridos com trabalhadores informais e servidores públicos.

Fonte: Bancários.org’

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