‘Essas instituições estavam contando com os repasses por meio de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) para tocar empréstimos e financiamentos a empresas e consumidores. Mas se recusaram a pagar juros de até 16% ao ano cobrados nesses papéis. Na visão dos dirigentes dos pequenos bancos a esse custo não havia como correr o risco de se intermediar dinheiro em momentos de tanta incerteza. Em dezembro do ano passado a taxa média dos CDBs estava em 115% ao ano.
O problema é que os bancos de menor porte estão cada vez mais dependentes das captações de recursos no mercado interno seja por meio de CDBs oferecidos a qualquer tipo de investidor seja por intermédio de Certificados de Depósito Interbancário (CDIs) títulos com os quais as instituições financeiras trocam dinheiro diariamente entre si. Se esses canais se tornarem inviáveis os bancos terão que reduzir suas atividades por um prazo mais longo privilegiando determinados públicos e cobrando ainda mais caro do que já cobram hoje para emprestar — a taxa média está em 40% ao ano mas pode chegar a 170% anuais se o parâmetro for o cheque especial.
Segundo José Luiz Rodrigues presidente da JLRodrigues Consultores até o início do ano havia dinheiro de sobra no mercado mesmo com a crise detonada pelo estouro da bolha imobiliária americana já tendo mostrado parte de sua face. Os pequenos bancos se abasteciam por meio da venda de títulos no mercado internacional. Tanto que nas contas da Associação Nacional dos Bancos de Investimentos (Anbid) as emissões de papéis no exterior por bancos e empresas somaram US$ 68 bilhões no primeiro semestre dos quais US$ 45 bilhões foram captados em maio e junho com o Brasil já premiado com a chancela de grau de investimento dada pelas agências de classificação de risco.
Sem portas
Mas com o estrago feito pela quebra do banco americano Lehman Brothers essa janela se fechou. E na avaliação de Patrícia Bentes sócia-diretora da Hampton Solfise empresa especializada em mercado de capitais deve permanecer fechada por pelo menos mais dois meses. Para ela as restrições impostas pela crise financeira internacional não seriam tão prejudiciais se também os grandes bancos não estivem com dificuldades em acessar o mercado internacional. Ao disputar as fontes internas de recursos acabam inflando os custos. Tanto que gigantes como o Bradesco e o Itaú as duas maiores instituições privadas do país têm aceitado pagar juros superiores a 14% ao ano para captar via CDBs a prazos bem curtos.
Na opinião de Rodrigues não será surpresa se nos próximos meses com as restrições de mercado aumentando alguns pequenos bancos forem absorvidos pelos grandes conglomerados. A tendência de concentração do sistema bancário brasileiro está cada vez mais forte assinala. Mas a seu ver o Banco Central não fará nada para impedi-la. O que importa para o BC é que o sistema opere de forma segura sem traumas sem risco de quebra. E se a melhor solução de mercado forem as incorporações dos mais fracos todas as operações terão o aval das autoridades.
Para Fernando Barroso diretor do Banco Banif Investimentos as dificuldades dos bancos em operar com crédito independentemente do porte da instituição são muito bem-vindas neste momento em que o BC quer reduzir o ritmo de atividade da economia. O crédito lembrou ele tem sido uma das principais alavancas do consumo doméstico pressionando a inflação que o Comitê de Política Monetária (Copom) tenta botar nos eixos por meio do aumento da taxa básica de juros (Selic).
Por isso destaca Vitória Saddi economista para a América Latina da Consultoria RGE Monitor vários analistas apostam na possibilidade de o BC promover somente mais uma alta da Selic em outubro de 05 ponto percentual com a taxa cravando os 1425% ao ano. A redução do crédito fará parte importante da política monetária disse. Há especialistas e gente do governo acreditando que nem haverá elevação dos juros com a Selic permanecendo em 1375% devido à queda da inflação e à desaceleração da economia mundial que afetará o ritmo de expansão do Produto Interno Bruto do país.
Fonte: Correio Braziliense
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