Após trabalhar 157 dias neste ano para pagar os impostos e contribuições exigidos pelos três níveis de governo a classe média brasileira ainda terá de destinar mais 117 de trabalho somente para adquirir serviços privados de saúde educação previdência segurança e pedágios.
Assim entre 1º de janeiro e 5 de junho deste ano as famílias com renda entre R$ 3.000 e R$ 10.000 trabalharam para pagar tributos aos governos federal estaduais e municipais. De 6 de junho até a próxima terça-feira dia 30 deste mês serão mais 117 dias -ou seja quase um terço do ano- de trabalho para comprar aqueles serviços. No total 75% da renda da classe média vai para pagar tributos e comprar serviços privados.
Segundo cálculos do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário) neste ano os contribuintes estão trabalhando dois dias a mais do que em 2007 -um dia para pagar tributos e outro para comprar os serviços privados.
Para o IBPT esse gasto é cada vez maior porque o Estado é deficiente na prestação de serviços públicos. Neste ano o cidadão de classe média só começará a trabalhar para comer vestir morar comprar bens gozar férias e fazer alguma poupança no dia 1º de outubro diz Gilberto Luiz do Amaral presidente do IBPT e coordenador do Estudo sobre os dias trabalhados para pagar tributos e a ineficiência governamental.
No estudo o IBPT considera como de classe média uma família composta de quatro pessoas (casal e dois filhos em idade escolar) e que tem renda entre 72 e 24 salários mínimos. Em relação ao ano passado os gastos que mais crescerem proporcionalmente foram os relacionados a segurança privada.
Uma família de classe média baixa (até R$ 3.000) gasta 43 dias para comprar os mesmos serviços segundo o estudo. Já as famílias consideradas de classe alta (as com renda acima de R$ 10.000) também gastam 117 dias de trabalho para adquirir os serviços. Como gastaram até 1º de junho só para pagar tributos essas famílias trabalham até hoje para comprar os serviços. Na média o estudo do IBPT diz que os brasileiros gastam 63 dias de trabalho para comprar os serviços privados.
Segundo o IBPT na década de 70 os brasileiros gastavam apenas 25 dias de trabalho por ano para comprar os serviços ou 7% da renda. Na década seguinte já eram necessários 44 dias ou 12% da renda. Em 1995 a compra dos serviços consumia 20% da renda familiar ou 73 dias de trabalho. Em 2003 pela primeira vez os brasileiros já tinham de trabalhar mais de 100 dias por ano (102) o que correspondia a 28% da renda.
Fonte: Folha de S. Paulo