‘O spread bancário que é a diferença entre a taxa paga pela instituição financeira para captar recursos e os juros finais cobrados do consumidor está na mira do governo que vem estudando formas de forçar os bancos a reduzi-lo. Isto porque se esta margem cair as linhas de crédito ficam mais baratas. Mas qual seria o spread ideal no Brasil? A média hoje é de 451% ao ano. E de acordo com estudo feito pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac) a pedido do GLOBO a taxa mais conveniente seria de 1775% ao ano em média cinco pontos percentuais acima da taxa básica de juros (a Selic) hoje em 1275% anuais.
Dessa forma o custo ao fim do pagamento das prestações em modalidades como cartão de crédito e cheque especial teriam um alívio de quase 82% apontam cálculos de especialistas.
Economistas ponderam no entanto que esse spread tido como ideal poderia aumentar o nível de inadimplência principalmente em linhas consideradas emergenciais como o cheque especial já que o brasileiro não tem o hábito de poupar.
Porém há quem acredita que o fomentador do calote é exatamente o alto custo do dinheiro.
O spread médio de 415% ao ano em operações para as pessoas físicas e os juros reais (acima da inflação) em 76% anuais são hoje os maiores do mundo.
Consumo responsável é importante diz economista Miguel José Ribeiro de Oliveira vice-presidente da Anefac ressalta que o spread ideal no Brasil teria de ser igual ao de países da Europa e dos Estados Unidos onde a média é de cinco pontos acima da taxa básica de juros. Ele ressalta que as altas taxas repassadas pelos bancos ao consumidor final prejudicam o orçamento das famílias. Oliveira cita o caso de algumas linhas como o crédito rotativo do cartão de crédito no qual o spread é de 220% ao ano. O mais viável continua seria uma diferença de 30% entre as taxas.
— Mas os bancos alegam que é impossível pois o custo alto do dinheiro e as projeções de crescimento de inadimplência impedem uma redução das taxas — ressalta Oliveira.
Segundo cálculos feitos pelo professor Gilberto Braga do Ibmec-RJ o spread menor dos empréstimos feitos no cartão de crédito faria os juros anuais da linha passarem de 23356% para 43% ao ano. Com isso o custo final de um financiamento de R$ 900 dividido em 12 meses passaria de R$ 7.60427 para R$ 1.37316. Ou seja uma redução de quase 82%.
Já no caso de um empréstimo de R$ 25 mil no crédito pessoal por um ano os juros seriam reduzidos de 93% ao ano para 41%. Nesse caso o custo final na linha teria uma queda de 39% pois o valor pago após 12 meses cairia de R$ 6.12276 para R$ 3.74133.
— Em tese o juro menor pode favorecer o endividamento.
Mas não devemos temer isso. é importante que os brasileiros tenham um consumo responsável. O atual spread é praticamente impagável para o cidadão comum.
Uma taxa ideal só seria possível se houvesse um volume suficiente para baratear o uso da linha — analisa Braga.
Ele ressalta que as linhas chamadas de emergenciais caso do cheque especial por exemplo devem ter juros maiores para serem usadas em ocasiões específicas e não a qualquer momento.
Porém Jason Vieira economistachefe da Uptrend Consultoria não concorda. Segundo ele o motivo para uma inadimplência tão alta hoje é justamente o alto custo do financiamento que se torna continua insustentável para diversas famílias.
Em 2008 o calote aumentou 8% revelou a Serasa Experian.
— Cinco pontos acima da Selic é um patamar ideal para a diferença entre o custo de captação e o que é repassado ao consumidor. Há condições para a redução sim mas os bancos alegam vários problemas que impedem a redução como a inadimplência e o custo fiscal. O ideal era que os bancos federais entrassem nessa briga e reduzissem suas taxas para estimular a competição — afirma Vieira.
Segundo o Banco Central o spread é composto por custo administrativo (135%) inadimplência (3735%) compulsório (359%) tributos (809%) outros impostos (1053%) e margem líquida dos bancos (2693%). Nos dois últimos meses do ano passado houve forte alta no spread devido à crise global.
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