Apesar do agravamento da crise financeira a partir de setembro o crédito imobiliário com recursos da caderneta de poupança fechou 2008 com 299.746 unidades financiadas um acréscimo de 53% sobre 2007 e um novo recorde para o setor quebrando a marca registrada em 1981 (266.884) quando a população do país era 38% menor do que a atual.
Segundo os dados da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) foram R$ 3005 bilhões em empréstimos 644% acima do valor registrado no ano anterior. Considerando só dezembro houve expansão de 369% no montante e de 379% no número de unidades ante o mesmo mês de 2007.
A média mensal no último trimestre ficou em linha com o resto do ano afirma Luiz Antonio França presidente da Abecip. Para o executivo uma das explicações é que a compra de um imóvel não é uma decisão por impulso logo os consumidores não mudaram de ideia mesmo com o cenário econômico desfavorável.
O crescimento se deve principalmente aos empréstimos ao setor empresarial para a construção de imóveis com alta de 827% nas unidades financiadas no ano. Para a aquisição por pessoas físicas o aumento foi de 284%. O presidente da Abecip preferiu não fazer projeções para 2009.
Os dados ainda não foram contabilizados mas o presidente da Creci-SP (Conselho Regional de Corretores de Imóveis) José Augusto Viana Neto estima que os financiamentos dos bancos tenham respondido por 40% das formas de aquisição de imóveis usados em 2008 no Estado de São Paulo patamar registrado no acumulado até outubro ante 30% no ano anterior. Em 2003 lembra eram apenas 17% do total.
As demissões no entanto já atingiram a construção civil. Dos 654.946 postos com carteira assinada fechados em dezembro segundo o Ministério do Trabalho 82.432 vagas eram do setor. O presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) Paulo Safady Simão explica que se não houver sequência de empreendimentos a serem feitos as equipes vão sendo dispensadas logo após a conclusão das fases da obra.
Muitos empreendimentos programados para os próximos dois anos foram adiados. Mesmo as empresas capitalizadas não vão investir agora afirma acrescentando que a grande preocupação do setor é com o desemprego em 2010 e 2011 quando as obras em andamento forem finalizadas. O déficit habitacional está em torno de 8 milhões de unidades. Neste mês o governo vai anunciar um pacote para estimular a construção civil e gerar empregos.
Uma das propostas da Abecip é permitir o abatimento dos juros pagos no financiamento habitacional no Imposto de Renda com a dedução variando de acordo com a renda e o valor do empréstimo. Outros pedidos da entidade são a ampliação do valor do imóvel que pode ser comprado com a ajuda do FGTS – hoje limitado a R$ 350 mil- e a liberação da parcela depositada mensalmente pelo empregador na conta do fundo do trabalhador para a redução da prestação do financiamento.
Principal agente financeiro do setor a Caixa Econômica Federal tinha emprestado até novembro R$ 204 bilhões 60% a mais do que em igual período de 2007. Os financiamentos com recursos da poupança (R$ 93 bilhões) tiveram expansão de 76% e com FGTS (R$ 102 bilhões) alta de 60%.
Fonte: Folha de S.Paulo