‘As taxas de juros do cartão de crédito atingiram em março o maior nível para o mês desde 1995 primeiro ano do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O percentual anual de juros do rotativo chegou a 43224% ao ano e 1495% ao mês – aumento de 156% ante fevereiro. Os dados integram pesquisa divulgada ontem pela Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade).
O cheque especial apresentou elevação de 179% na comparação com o mês anterior passando de 1116% para 1136% ao mês. Ao ano a taxa alcançou 26371%. A média das tarifas para pessoa física subiu de 14576% para 14876%. Para pessoa jurídica os aumentos foram mais suaves: em média os juros dessa categoria subiram 158%. Com isso a taxa mensal foi de 443% para 45%. O acumulado anual saltou de 6823% para 6959%. Foi o 18º mês seguido de altas.
As elevações ocorrem a despeito da manutenção desde julho do ano passado da taxa básica de juros (Selic) em 1425% ao ano. O diretor executivo de estudos da Anefac Miguel José Ribeiro de Oliveira explica que o crescimento nos percentuais cobrados está ligado ao momento pelo qual passa a economia do Brasil que as instituições financeiras consideram como de alto risco de inadimplência. “Diante da recessão e suas consequências como aumento da inflação e do desemprego e da queda na renda da população a expectativa dos bancos é a de que a possibilidade de calote é maior. Por esse motivo aumentam as taxas” comenta.
Para se ter ideia em 2013 quando a economia brasileira ainda estava em ascensão – o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 23% ante 2012 – as taxas médias em março eram de 8797% ao ano para pessoa física e de 4358% para empresas. Naquela ocasião a Selic estava em 725% ao ano.
Oliveira avalia que as taxas deverão continuar subindo pelos próximos meses ainda que a Selic tenha pequeno decréscimo como aposta parte do mercado financeiro. “Todos os fatores que levam insegurança aos agentes econômicos tendem a se manter. Só haveria queda nos juros se houvesse mudança nesse cenário ou se a Selic tivesse forte redução o que dificilmente acontecerá.”
DICAS – O administrador de empresas Mauro Calil especialista em finanças pessoais orienta a quem estiver endividado que substitua por crédito mais barato. “Por exemplo: no caso de dívida no cartão de crédito ou no cheque especial o ideal é procurar o banco e tentar cobrir esse valor com um empréstimo pessoal cujos juros são mais baixos.” Em março os juros do empréstimo pessoal nos bancos atingiram taxa média de 3199% ao ano. Nas financeiras chegou a 7115%.
Quem tem dívida de R$ 1.000 no cartão de crédito e opta por pagar o mínimo (que geralmente varia entre 15% e 20% do valor total) neste caso de R$ 200 levará quase oito meses para quitar sua fatura que custará no fim das contas R$ 1.51160 sendo R$ 51160 de juros. Pagando dessa forma se entra no chamado crédito rotativo.
Ao substituir pelo crédito pessoal o valor da dívida saldado em seis parcelas dos mesmos R$ 200 será de R$ 1.16806 (considerando juros de 1228% ao ano ou R$ 16806) conforme simulação disponibilizada pela Calculadora do Cidadão do Banco Central. Outra opção apontada por Calil é o empréstimo consignado – cujo valor das parcelas é debitado automaticamente da folha de pagamento. Considerando o mesmo exemplo a dívida ficaria em R$ 1.04614 (juros de 2954% ao ano ou R$ 4614 a mais) em cinco parcelas de R$ 200.
NOVIDADE – Para impulsionar o fornecimento de crédito no País a presidente Dilma Rousseff (PT) publicou no fim de março a Medida Provisória 719 que autoriza a utilização de até 10% do saldo do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e até 100% da multa rescisória (em caso de demissão sem justa causa) como garantia de pagamento ao credor.
A Caixa foi procurada pelo Diário para informar detalhes mas informou que ainda aguarda regulamentação da medida por parte do conselho curador do FGTS. Não foi dado prazo de quando esse procedimento será concluído.
Para Calil a possibilidade de utilizar o FGTS como garantia para o consignado é positiva já que facilita o acesso a uma linha de crédito mais barata. “Porém é preciso melhorar o nível de educação financeira da população para que os cidadãos não fiquem precisando de empréstimos a todo momento. Mesmo que os juros sejam inferiores aos cobrados em outras operações o ideal é que se evite contrair dívidas” pondera o especialista em finanças pessoais.
Fonte: DGABC’