‘A inflação pode ser definida como aumento generalizado nos preços. Os principais grupos de indicadores são os IPC´s (índices de Preços aos Consumidores) e IPP´s (índices de Preços aos Produtores). A divisão justifica-se pelo fato de a cesta de consumo das famílias não ser igual à das empresas. Por isto em muitos casos os IPC´s apresentam valores muito distintos dos IPP´s e estas diferenças possibilitam a realização de avaliações prospectivas.
Nesse contexto ocorre a inflação de demanda (quando o aumento do preço de determinado produto advém da elevação do consumo) e a inflação de oferta (quando elevações dos custos das empresas acarretam reajustes nos preços dos produtos). O principal determinante da inflação de demanda é o aumento da renda das famílias. A de oferta é determinada principalmente por elevações nos preços do petróleo salários e insumos.
Em termos mundiais nota-se que houve a perigosa combinação dos dois tipos. Do ponto de vista da oferta a elevação dos preços do petróleo e de outras fontes de energia pressionou os custos das empresas. Estes aumentos também decorreram da alta nos preços das matérias-primas ocasionada principalmente pelo forte crescimento dos países emergentes. Do ponto de vista da demanda a elevação da renda das famílias oriunda do crescimento econômico ampliou os gastos. Como resultado a inflação apresentou comportamento de alta nas principais economias incluindo o Brasil.
Aqui o IPCA fechou 2007 em 446% revertendo tendência de queda iniciada em 2002 quando atingiu 1253% (quase quatro vezes superior ao do ano passado). O principal grupo responsável pelo IPCA de 2007 foi o de alimentação que representou praticamente metade do índice (221%). Supondo que os alimentos não tivessem sofrido reajustes no exercício a inflação anual seria de apenas 225% número extremamente baixo para os padrões brasileiros explicado principalmente pela valorização do real frente ao dólar que fez com que os produtos importados custassem menos pressionando os concorrentes nacionais.
O IGP-M (índice Geral de Preços do Mercado) fechou 2007 com variação de 775% praticamente duas vezes superior à de 2006 de 383%. O IGP-M é utilizado no reajuste de vários contratos e preços como aluguéis energia elétrica e prestação de serviços. é composto por três outros índices: preços ao consumidor; preços ao atacado; e o que apura os custos da construção. Embora não seja o medidor mais adequado da inflação de oferta o IGP-M aproxima-se muito de um IPP e a alta registrada em 2007 impactará os custos das empresas quando ocorrerem reajustes de aluguéis e energia além é claro das despesas das famílias que também têm gastos com aluguéis e energia elétrica.
Isto significa que há um descontrole dos preços e que a inflação inverterá sua tendência de queda no Brasil e no mundo? Certamente não! Os bancos centrais vêm demonstrando atenção com relação aos níveis dos preços e controlando a taxa básica de juros para evitar a inflação de demanda. Com juros elevados as famílias consomem menos pois o custo do crédito é maior. Além disso os consumidores preferem poupar recursos ao invés de gastar já que a remuneração pelo dinheiro investido é maior. Isto impede pressões inflacionárias oriundas de aumento da demanda. A redução da taxa de juros nos Estados Unidos somente foi possível em função de indícios de um cenário recessivo que contrai a demanda. A manutenção da Taxa Selic no Brasil na última reunião do Copom foi necessária para interromper o crescimento da demanda.
Em termos de oferta a situação é mais preocupante. Há indícios de que os preços da energia no Brasil e no mundo devem continuar altos. No caso brasileiro falta de chuvas baixo nível dos reservatórios e incertezas com relação ao fornecimento de gás natural vêm pressionando o custo da energia fornecida ao parque industrial. Cumpre ressaltar que os efeitos de elevações da taxa básica de juros sobre a inflação de oferta são reduzidos e geralmente recessivos sobre a produção. Neste sentido o fato de o IGP-M ter apresentado comportamento de alta sugere inflação de oferta em 2008.
Além disso a intensidade da valorização do real em relação ao dólar será reduzida no primeiro semestre de 2008 e interrompida no segundo semestre em função da reversão do saldo positivo da conta corrente. Isto praticamente eliminará a pressão deflacionária dos produtos importados. Assim o crescimento de 2008 poderia acentuar ainda mais a combinação indesejável de inflação de oferta com inflação de demanda.
Felizmente os mercados costumam ajustar-se rapidamente às mudanças. Os problemas com os custos da energia podem ser parcialmente resolvidos por inovações tecnológicas capazes de aumentar a eficiência energética além da utilização de novas fontes. A resposta à crescente demanda mundial por alimentos vêm sob forma de maior área destinada ao plantio ganhos de produtividade e aumentos da oferta que implicam reduções nos preços dos produtos agrícolas. Finalmente a atuação dos bancos centrais com políticas monetárias ativas pode assegurar a estabilidade dos preços nas economias garantindo dessa forma que o comportamento relativamente tranquilo observado nos últimos anos prolongue-se por muito tempo.
Fonte: Trevisan Consultoria
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