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Debate Sindical Quando foi o seu primeiro contato com a vida sindical?
Geraldino Cruz Foi por volta de 1982 com o senhor
Debate Sindical Como foi o início do seu engajamento na luta dos trabalhadores?
Geraldino Cruz Eu era empregado da Enesa. E fui o cipeiro mais votado de toda a história da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) das empreiteiras na área da Cosipa. Fui vice-presidente da CIPA da Enesa por duas vezes.
Debate Sindical O senhor fez uma greve nas empreiteiras da área da Cosipa?
Geraldino Cruz Sim. Eu já era da diretoria do sindicato. Eu e mais um colega em 1987 paramos as empreiteiras na Cosipa. Reivindicávamos a reposição da inflação que na época era terrível. Sai de canteiro em canteiro e consegui colocar no pátio da empresa numa faixa de 12 mil trabalhadores. Parou todo mundo.
Debate Sindical E parou?
Geraldino Cruz Parou todo mundo.
Debate Sindical Por quanto tempo?
Geraldino Cruz Paramos por dois dias. Eu senti que a Polícia Militar (PM) e a vigilância da Cosipa queriam me prender. Por dois dias eu consegui driblar isso. Conseguimos o reajuste salarial mas paguei um preço muito caro por isso. A empresa pediu a minha cabeça e me tirou da área da Cosipa. Eu fui expulso. Fui preso. Duas viaturas da PM me levaram. Fui colocado para fora e o sindicato na época me desprezou também porque achou que fui uma pessoa radical.
Debate Sindical Como você ficou?
Geraldino Cruz A empresa não me queria dentro da área. Ela continuou a pagar o meu salário mas não me deixou voltar para o trabalho. A empresa considerou que eu era uma ameaça dentro da área da Cosipa. O sofrimento meu foi muito grande. Passei nove anos assim.
Debate Sindical Como foi o seu retorno?
Geraldino Cruz Eu juntei um grupo de 14 pessoas mesmo da diretoria do sindicato. E consegui falar individualmente com alguns camaradas que foram muito importantes nessa fase da minha vida. Um foi o Douglas Martins de Souza o José
Debate Sindical Na época em que o senhor estava ainda fora do sindicato e disputava eleições concorriam às vezes mais do que duas chapas. Tinha oposição atuante. Hoje as eleições aqui no
Geraldino Cruz Houve uma mudança do estatuto que dificultou a formação de chapas de oposição. Tem artigo que dificulta e afasta qualquer tipo de oposição.
Debate Sindical Isso não é ruim?
Geraldino Cruz é para a democracia.
Debate Sindical Como você vê o movimento sindical hoje em comparação ao início da sua militância sindical na década de 1980?
Geraldino Cruz Está muito difícil. O movimento sindical se afastou um pouco do trabalhador. Quando você arrecada do trabalhador contra a vontade dele de uma forma compulsória que é o imposto sindical isso é danoso para os sindicatos. Eu defendo que o trabalhador contribua espontaneamente.
Debate Sindical O movimento sindical ainda é combativo?
Geraldino Cruz Sim. Mas tem sindicalista que perdeu contato com a base. Por exemplo o Porto de Santos. Quanto tempo o porto não faz uma grande manifestação com os trabalhadores? Quanto tempo a Cosipa não pára por causa de uma greve? O nosso sindicato tem feito bastante greve. As nossas assembléias estão cheias. Temos dado resposta para o trabalhador. Mas eu tenho visto aí que tem sindicato que virou sindicato de arrecadação sindicato de carteirinha. O trabalhador realmente tem se distanciado do sindicato. Espero que isso mude com a legalização das centrais sindicais e com a necessidade de ter 25% da categoria filiado ao sindicato.
Debate Sindical O senhor não tem medo de fazer greve?
Geraldino Cruz Não pelo contrário. A função do mecânico é arrumar o motor do carro. A função de um eletricista é levar energia. A função de uma fábrica de automóveis é produzir carro. E a função de um sindicalista é fabricar greve. A greve fortalece e engrandece um dirigente sindical. Eu acho que um dirigente sindical que tem medo de greve deve se aposentar e pegar o boné e ir embora. A greve faz parte da luta de um sindicato. A greve tem de ser feita com sabedoria. Tem de fazer tudo direitinho para que o movimento não se arrebente na Justiça. A greve precisa ser justa bem pensada e tem de ser a vontade do trabalhador e não a vontade do dirigente sindical.
Fonte: Porto Gente – Debate Sindical
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