Mais 50 milhões de trabalhadores poderão juntar-se aos desempregados em todo o mundo em 2009 e 2010 se a reativação econômica for tão lenta quanto prevê o Fundo Monetário Internacional (FMI) disse o diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT) Juan Somavia. Estamos certamente a caminho desse resultado desolador acrescentou. Se ele esperava uma palavra animadora do secretário do Tesouro americano Timothy Geithner deve ter-se decepcionado. Segundo Geithner o desemprego nos EUA ainda vai subir depois de ter alcançado em março o recorde de 26 anos 85%. As previsões para o resto do mundo rico não são melhores e só haverá recuperação para valer quando o saneamento dos bancos estiver avançado: este mantra foi repetido incessantemente por ministros presidentes de bancos centrais e altos funcionários do Fundo na reunião encerrada ontem.
Os bancos ainda estão cheios de ativos podres – créditos de alto risco – e a limpeza continua lenta principalmente nos EUA segundo a avaliação mais ouvida durante a semana. As autoridades americanas foram pressionadas dentro e fora dos salões do FMI para apressar o trabalho. Os europeus bateram fortemente nesse ponto durante o encontro de presidentes de bancos centrais do Grupo dos 20 (G-20) sexta-feira no Federal Reserve (Fed).
Não há uma divergência de estratégias entre europeus e americanos disse no sábado o diretor-gerente do FMI Dominique Strauss-Kahn. Há somente uma diferença quanto ao sentido de urgência acrescentou recorrendo a um evidente eufemismo. Essa diferença não aparece naturalmente no comunicado oficial do Comitê Monetário e Financeiro o órgão político mais importante do Fundo.
Aparece apenas em destaque o compromisso geral de fazer o necessário para garantir a solidez das instituições sistemicamente importantes e de restaurar a saúde financeira dos bancos o crédito interno e os fluxos internacionais de capital. Em sua entrevista Strauss-Kahn foi mais enfático: cada governo deve fazer o necessário em suas condições particulares para resolver o problema recorrendo à estatização se isso for necessário.
Nos EUA o esquema proposto pelo governo Obama inclui a participação de investidores privados. Pode ser bom negócio em princípio comprar ativos podres porque alguns desses títulos poderão valorizar-se quando a situação melhorar. Mas há o temor de mudança nas regras do jogo disse ao Estado um funcionário brasileiro conhecedor dos meios financeiros americanos.
Além disso o governo dos EUA tem bom motivo para não se animar com a estatização: seria preciso de alguma forma supervisionar bancos muito grandes e muito complexos e a burocracia estatal não está preparada para isso. Os britânicos segundo essa fonte já descobriram essa dificuldade.
Mesmo na Europa onde a intervenção no mercado está mais avançada e os governos já aplicaram 150 bilhões na recapitalização dos bancos – de um total projetado de 27 bilhões – o setor bancário continua frágil.
O checo Mkiroslav Kalousek presidente do Conselho de Ministros de Economia e Finanças da UE apontou como prioridade chave da agenda internacional o rompimento de um círculo vicioso: o enfraquecimento da economia real deixou mais exposta a fraqueza do setor financeiro e o maior enfraquecimento dos bancos levou a um declínio maior da atividade econômica. A projeção do FMI de recuperação no mundo rico a partir do próximo ano tem como pressupostos o rompimento do ciclo e o início da normalização dos mercados de crédito. No mundo desenvolvido a atividade econômica é muito mais dependente do crédito do que em países como o Brasil onde os empréstimos ao setor privado estão próximos de 40% Produto Interno Bruto (PIB) No mundo rico essa relação corresponde ao dobro ou ao triplo da observada na economia brasileira.A dependência do crescimento em relação ao crédito é a história real muito mais dramática por trás das perdas bancárias estimadas pelo FMI.
Há um ano os economistas do Fundo avaliaram em US$ 1 trilhão as baixas de créditos podres. Houve quem considerasse o número um exagero. Em outubro a projeção havia chegado a US$ 14 trilhão. O número foi revisto para US$ 24 trilhões em janeiro e elevado para US$ 28 trilhões no relatório divulgado na semana passada. Esses valores se referem só aos créditos originados na bolha imobiliária americana. As perdas globais segundo cálculos mais amplos podem chegar a US$ 41 trilhões.
No meio desse quadro algumas boas notícias. O FMI terá mais dinheiro para socorrer países em dificuldades. Para a América Latina já estão previstos financiamentos superiores a US$ 61 bilhões: US$ 47 bilhões para o México e estão na fila a Colômbia (US$ 106 bilhões) El Salvador Guatemala e Costa Rica (US$ 1 bilhão cada).