Na última década o Brasil fugiu à tendência de precarização do trabalho registrada na América Latina e Caribe e aproximou-se mais da tendência global de melhoria nas relações de trabalho. Levantamento da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revela que a América Latina foi a única região do mundo em que cresceu a participação de pessoas trabalhando em condições precárias entre 1997 e 2007.
De acordo com o estudo 327% dos homens empregados na região trabalham sob condições vulneráveis em 2007. Dez anos antes o percentual era de 301%. O índice de mulheres empregadas sob condições precárias também aumentou ficando em 335% no ano passado ante 321% em 1997.
A organização não divulgou dados sobre o Brasil. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) entre 1998 e 2007 a participação média de trabalhadores sem carteira assinada nas capitais regrediu de 389% para 351%. Tivemos até 2003 um aumento na precarização do trabalho no Brasil com queda de salário real médio e redução das contratações em carteira. Mas desde 2004 houve uma reversão do quadro afirmou Clemente Ganz Lucio diretor técnico do Dieese.
No mundo a participação de homens em condições vulneráveis de trabalho baixou de 561% para 517% e a participação de mulheres sob as mesmas condições baixou de 507% para 487%. Em entrevista por telefone Theodor Sparreboom economista da OIT considerou positivo o fato de o nível de precarização na América Latina ter ficado abaixo da média global. Para o economista o aumento da contratação de pessoas sob condições vulneráveis é reflexo da baixa produtividade na América Latina.
Nos últimos dez anos a produtividade na região só cresceu 06% por ano abaixo da média global. Falta dinamismo na economia e é difícil mudar o perfil de emprego para tipos mais produtivos e menos vulneráveis afirmou. Ele observa que os países da ásia especialmente a China têm altos índices de emprego sob condições precárias – que variam de 523% a 842% da mão-de-obra total empregada – e também apresentam baixos índices de produtividade.
Para o economista o crescimento da China como competidor internacional mantendo empregados em condições vulneráveis de trabalho preocupa mas não deve se manter ao longo da década. Se existe uma relação sustentável entre empregados e empregadores é mais fácil para empresas investirem. O crescimento onde não se aumenta o número de empregados não se formam pessoas não é uma via sustentável no longo prazo afirmou.
Sparreboom acredita que nos próximos anos a América Latina acompanhará as demais regiões e reduzirá o número de contratados sob condições precárias. Os investimentos em formação têm crescido sobretudo no Brasil. A tendência é de melhora.
Fonte: Valor Econômico