Como avalia a queda na produção industrial em dezembro de 2008?

Em primeiro lugar é o resultado da política monetária restritiva verificada no ano passado. A elevação dos juros em 2008 implicou seu maior efeito no ultimo trimestre do ano passado já que há um lapso de tempo entre as decisões do Banco Central e seus impactos na vida real. De forma combinada coincidente nós tivemos o impacto da própria crise internacional seja da forte contenção do crédito às empresas seja resultante das multinacionais que tomaram decisões com efeitos nas matrizes. E por fim a desaceleração drástica do comércio externo que impactou nas empresas exportadoras. O setor industrial denunciou mais rapidamente os efeitos no encolhimento da demanda embora isso não seja o mesmo verificado nos setores de distribuição se pegarmos comércio e serviços. O que ocorreu no último trimestre do ano passado não pode ser generalizado para o conjunto da atividade econômica.

Esse resultado indica uma desaceleração maior a longo prazo?

Eu diria que há um sentido recessivo nesses dados. De certa maneira colocam em xeque as próprias respostas que estão sendo dadas e que a nosso ver não estão sendo suficientes para conter esse sentido recessivo. é fundamental repensar as políticas que estão sendo adotadas porque do contrário não seremos capazes de ter um ano de crescimento positivo em 2009 ainda que menor que o ano passado.

Ainda assim a indústria registrou em meio ao estouro da crise crescimento de 31% em 2008. Este não pode ser considerado um bom resultado?

Se a gente olha o conjunto dos 12 meses do ano passado o desempenho de 3% comparado aos níveis internacionais não é nenhum fracasso. Em 2008 há dois momentos distintos: o que vinha ocorrendo até o mês de outubro e o que veio a partir de outubro. Então a preocupação nesse momento é com as medidas necessárias para que não tenhamos uma interrupção no ciclo de bons resultados econômicos e sociais que o Brasil vinha apresentando praticamente desde 2004. Se tivermos um crescimento menor neste ano e ao que parece nós vamos ter os resultados sociais produzidos nos anos anteriores não serão mais os mesmos. Isto pode interromper essa trajetória positiva que vínhamos observando e para combater isso são necessárias medidas de caráter cada vez mais inovador.

O senhor mencionou a diminuição das exportações ao comentar o recuo na produção industrial em dezembro. Como o mercado interno se encaixa nessa equação? O mercado interno brasileiro já pode servir de colchão contra a crise?

Se compararmos períodos históricos próximos ao que nós vivemos agora como a crise de 1929 a crise de 1973 não há dúvida de que a saída se deu pelo mercado interno. O Brasil soube utilizar medidas inovadoras como a reorientação do modelo econômico em 1929 ou como foi nos anos 1970 o plano nacional de desenvolvimento e de reforço do setor produtivo acoplado inclusive a iniciativas inovadoras como o Proálcool que criou uma nova perspectiva da matriz energética. Eu não tenho dúvida que o mercado interno brasileiro pela vantagem que nós temos representa uma oportunidade que poucos países possuem neste momento. Agora é uma oportunidade que precisa ser aproveitada.

O anúncio da construção de casas populares pelo Governo e o aumento de verbas destinadas ao PAC são medidas suficientes?

São medidas oportunas estão no sentido correto. à medida que enfrentamos as mazelas nacionais com um contingente enorme de sem-tetos não só de sem-teto há outras mazelas que poderiam ter o enfrentamento perfeitamente ampliado aproveitando a situação de crise. Acreditamos que o momento de crise exige na verdade um grande entendimento nacional. Esse entendimento significaria a nosso ver uma repactuação do federalismo brasileiro porque essa questão tem de ser enfrentada não só pelo Governo federal pelos governadores e prefeitos; e ao mesmo tempo o entendimento com o setor produtivo com empresários e trabalhadores. Essa oportunidade de combinar esforços de toda a sociedade é que nos dará uma singularidade para superar as barreiras que estão sendo enfrentadas hoje.

O senhor vê espaço para a redução da taxa de juros nos próximos meses?

A nosso ver e a partir dos dados da pesquisa mensal do IBGE seria importante que o Banco Central promovesse uma reunião extraordinária para reduzir as taxas de juros imediatamente. Defendemos uma queda de 5 a 6 pontos percentuais neste ano. O patamar de juros que temos hoje está incompatível com o sentido recessivo que o setor industrial apresenta. Seria perfeitamente aceitável uma decisão extraordinária do Copom para reduzir a taxa de juros diante dos dados que temos hoje porque o Banco Central tomou a decisão passada.

Apesar de o Governo reconhecer a crise e anunciar medidas para combatê-la o presidente Lula utiliza um discurso otimista como se houvesse um desgaste menor no Brasil. Isso é eficiente?

Do ponto de vista da retórica nós precisamos considerar como é esperado de uma autoridade que ele precisa olhar o país como um todo. E a crise atinge o país de forma muito heterogênea: tem setores que perdem e outros que ganham na crise. Se a indústria acusou menor atividade no último trimestre 2008 o mesmo não pode ser dito por exemplo no setor de comércio varejista no setor de serviços que não apresentou resultados tão negativos – pelo contrário. Portanto a autoridade tem que olhar o conjunto da nação e valorizar sobretudo as suas possibilidades nesse sentido. Agora do ponto de vista da ação interna da ação do Governo é importante que o debate da crise não fique circunscrito às decisões do Executivo. Em um momento como esse que é um momento extraordinário ele exige o envolvimento do conjunto das autoridades da República: do Legislativo do Judiciário dos demais poderes e entes federativos e da própria sociedade. O Governo reagiu muito rapidamente aos problemas iniciados já no final do ano passado concedendo crédito aos setores em dificuldade ao nosso ver é preciso ampliar isso para envolver os trabalhadores não somente os empresários e também realizar o pacto federativo. Isso seria um reforço da retórica que o presidente Lula vem fazendo neste momento.

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