Com o empréstimo de R$ 43 bilhões junto ao Banco do Brasil anunciado anteontem a empresa de telefonia Oi se tornará o maior tomador de crédito da instituição controlada pelo governo federal ultrapassando até o limite normal de exposição a um único grupo econômico previsto na política de crédito do banco.
Segundo a Folha apurou isso só será possível porque ela passará a integrar um segmento especial de empresas que a diretoria do BB considera estratégico para investir e portanto permite uma maior concentração de crédito.
Considerando os últimos dados disponíveis do balanço do BB referente ao primeiro trimestre deste ano o maior tomador de crédito uma companhia pertencente ao setor de metalurgia e siderurgia cujo nome não foi divulgado devia ao banco R$ 4182 bilhões. Isso representava 4% dos R$ 104574 bilhões emprestados só a grandes empresas com faturamento superior a R$ 90 milhões por ano (o chamado segmento corporate).
A operação com a Oi que será usada para financiar a compra da Brasil Telecom uma vez que a lei a permita atinge 41% desse total e também está no topo dos maiores devedores do BB quando se considera o volume global de empréstimos do banco. A carteira total de crédito do BB junto a empresas privadas -incluindo micro pequenas e médias- fechou o primeiro trimestre com R$ 138124 bilhões concedidos.
O empréstimo para empresa de telefonia representa 31% desse total percentual ligeiramente superior aos 3% detidos até então pelo maior credor privado pessoa jurídica do BB.
Os R$ 43 bilhões também extrapolam o limite de 10% do patrimônio de referência do banco fixado pela diretoria do BB para operações com um mesmo grupo empresarial segundo a Folha apurou -o banco nega esse limite (leia texto abaixo).
Para esse cálculo é utilizado o patrimônio de referência que no caso do BB em março equivalia a R$ 364 bilhões. Se seguisse o teto de 10% o banco só poderia emprestar R$ 36 bilhões à Oi. No entanto há uma exceção para empresas consideradas clientes estratégicos e de bom retorno para a instituição. Nesse grupo estão por exemplo a Vale do Rio Doce a Petrobras e a Votorantim.
Todas companhias que integram o setor de metalurgia e siderurgia o que mais toma empréstimos junto ao BB. Nesses casos vale o limite de exposição de 25% do patrimônio de referência determinado pelo Banco Central. Ou seja até o empréstimo à Oi o BB usava um critério mais restrito que o do BC para outros setores que não o de metalurgia e siderurgia.
Em março esse segmento tinha R$ 11517 bilhões em crédito do banco 11% do total concedido às grandes empresas. Telecomunicações em que está incluída a Oi ocupava a 17ª posição com R$ 21 bilhões. Agora deverá ficar entre os seis principais segmentos.
Para Luís Miguel Santacreu analista da Austin Rating não é comum um negócio dessa magnitude. Sobretudo porque um dos interessados no negócio entre a Oi e a Brasil Telecom é a Previ fundo de pensão dos funcionários do BB. Ele diz não acreditar que seja uma operação ruim já que a empresa Oi é considerada sólida. No entanto para ele claramente a operação foge do padrão do BB. O BB não é um banco de investimento. Ele poderia ganhar mais dinheiro fazendo operações de crédito no varejo.
O BB argumenta que o setor de telefonia é estratégico pelas oportunidades que surgirão no mercado com a tecnologia 3G. A idéia segundo executivos do banco é que isso permitirá fazer de telefones celulares computadores de bolso atendendo a uma demanda reprimida no país por essa tecnologia.
Fonte: Folha de S.Paulo