Os pacotes anunciados por Banco do Brasil Santander Itaú Unibanco e Bradesco são de baixo impacto sobre suas carteiras de crédito e sobre o sistema financeiro como um todo. A agressividade ficou por conta da Caixa Econômica Federal.

A avaliação colhida junto a banqueiros que analisaram a fundo a ação dos concorrentes é que os cortes foram pontuais e que como se mexeu nas taxas mínimas das tabelas ainda há muito espaço para jogar com a taxa média.

Já a ofensiva da Caixa causou perplexidade. “A Caixa foi bem mais agressiva“ comentou um banqueiro. E aqui a diferença entre BB e Caixa ambos de controle estatal é que embora os dois tenham sido chamados pelo governo a baixar os spreads e iniciar uma pressão sobre o setor privado o primeiro tem acionistas em bolsa e tem de evitar guinadas para baixo em suas margens.

Um outro banqueiro comenta que para praticar os mesmos spreads da Caixa teria que deixar de atender os clientes de maior risco. Segundo esse raciocínio de três uma: ou o banco estatal fará isso ou exigirá grandes reciprocidades dos clientes ou vai gerar prejuízo.

Em entrevista à repórter Carolina Mandl na edição de ontem do Valor Márcio Percival vice-presidente da Caixa rebateu esse tipo de crítica.

“As taxas estão assentadas em avaliação dos clientes de risco da qualidade das carteiras. Todas as operações trabalham com margens positivas. O que estamos fazendo é dar prioridade ao modelo de aumentar rentabilidade pelo volume das operações. (…) Não trabalhamos com margem negativa nem de longe“ afirmou. Percival admitiu entretanto que o retorno patrimonial do banco vai cair seis pontos percentuais em relação a 2011 e que o banco já discute com o Tesouro nova injeção de capital. Luxos a que os bancos privados e o BB não se podem dar.

As conversas entre Febraban e Ministério da Fazenda avaliam banqueiros vão continuar. Embora a presidente Dilma Rousseff e o ministro Guido Mantega tenham elevado o tom do discurso contra a banca na semana passada no setor a leitura é que o governo é sensível às demandas que podem abrir espaço para o corte dos spreads. O presidente da Febraban Murilo Portugal que se estranhou com o Mantega durante esse debate não deverá seguir à frente da discussão pelo lados dos bancos – continua a liderar outras agendas igualmente importantes.

Os bancos argumentam a seu favor entre outras coisas que as montadoras que puxaram críticas contra a falta de crédito dos bancos exibem rentabilidades superiores às do setor financeiro há anos. Rentabilidade essa apoiada por políticas de incentivos governamentais e crédito farto. Segundo o anuário “Valor 1000“ em 2010 o setor de veículos e autopeças exibiu rentabilidade patrimonial média de 258% enquanto os bancos comerciais e múltiplos ficaram com índice de 161% (sobre o patrimônio em fim de período).

“Existe um mito da rentabilidade dos bancos. Não há como fazer milagres e na média a rentabilidade dos bancos está alinhada com seu custo de capital“ comenta um banqueiro. Esse tipo de argumentação encontra pouco eco. No mundo e no Brasil pega mal defender os interesses do setor bancário. E a crise financeira em que o mundo mergulhou em decorrência da farra dos bancos americanos certamente só piorou as coisas.

Paralelamente os bancos tentam mostrar ao governo que o crédito não encontra mais o mesmo espaço de antes para crescer. Tem esbarrado no alto endividamento das famílias.

Se a relação crédito/PIB no país em torno de 50% ainda é baixa para padrões internacionais o problema reside no fato de que o crédito imobiliário é incipiente e que o crédito para consumo é expressivo. Ou seja o brasileiro está endividado no curto e médio prazos consumindo fatia importante da renda mensal. E os bancos sabem melhor que ninguém que os orçamentos das famílias ficaram comprometidos pelas prestações do carro.

Fonte: FEEBMG

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