Em 12 meses essa participação cresceu de 341% para 376% do total de crédito concedido no País. A Caixa tradicionalmente ligada ao financiamento habitacional reforçou suas linhas de crédito para empresas e o financiamento de automóveis. Já o BB sempre forte no financiamento agrícola agora atua mais no crédito de imóveis veículos e eletrodomésticos. O avanço dos bancos públicos é explicado também pela atitude das instituições privadas que com a crise econômica reduziram a concessão de empréstimos. “Aproveitamos a letargia dos concorrentes“ diz Marco Geovanne Tobias diretor do BB.

Os bancos públicos federais aproveitaram a crise financeira internacional para acelerar uma estratégia de crescimento e superação do setor privado. Nos últimos 12 meses a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil (BB) entraram em nichos de negócio antes não explorados e ajudaram o setor público a avançar de 341% para 376% do volume global de operações de crédito do País.

A Caixa que sempre foi identificada com o financiamento habitacional pagamento de funcionários públicos e abraçava os pequenos poupadores e a população de baixa renda ganhou um banco de investimentos para comprar participação em outras empresas a CaixaPar e entrou mais pesado no mercado de crédito para médias e grandes empresas financiamento de automóveis e de eletrodomésticos. Na semana passada anunciou que vai financiar viagens.

O Banco do Brasil que conta com acionistas privados mudou de direção entrou no mercado imobiliário de automóveis eletrodomésticos e agora está submetido a um “contrato de gestão informal“ com metas para redução dos juros dos seus empréstimos como definiu o ministro da Fazenda Guido Mantega ao anunciar a substituição de Antonio Lima Neto por Aldemir Bendine no comando do instituição.

Essa expansão dos bancos públicos é explicada em grande parte pela inércia dos seus concorrentes privados que com medo da crise pararam ou desaceleraram o ritmo de concessão de novos empréstimos abrindo caminho para a Caixa e principalmente o BB.

Tradicionalmente especializados em nichos de operações de crédito como habitação (Caixa) e agronegócios (BB) os dois bancos passaram a atrair pessoas físicas com o dinheiro que acabaram sugando de instituições privadas de porte médio durante a crise.

Os balanços do BB do ano passado dão a medida das mudanças. Entre junho e agosto de 2008 o banco captava cerca de R$ 12 bilhões em novos depósitos por mês. Em setembro esse volume pulou para R$ 24 bilhões e em outubro para R$ 36 bilhões. No ano fechado o BB conseguiu ampliar seu volume de depósitos de R$ 1802 bilhões para R$ 246 bilhões.

‘Tivemos um volume enorme de liquidez voando para dentro do BB“ diz o gerente de Relações com Investidores do banco Marco Geovanne Tobias.

Seus principais concorrentes privados Bradesco e Itaú-Unibanco também “roubaram“ depósitos dos bancos médios e terminaram 2008 com R$ 1452 bilhões a mais. Mas ao contrário do BB aplicaram grande parte desse dinheiro em títulos públicos com ganhos altos e sem risco. As aplicações dos dois conglomerados em títulos (públicos e privados além de derivativos) cresceram R$ 1047 bilhões no ano passado.

O BB ao contrário aposta suas fichas em operações de crédito. Em 2002 por exemplo o banco possuía uma carteira de R$ 678 bilhões de títulos e apenas R$ 629 bilhões de operações de crédito. Em 2008 o volume de títulos continuava em R$ 709 bilhões mas as operações de crédito já haviam pulado para R$ 2248 bilhões. Ou seja hoje o BB tem um volume de empréstimos 31 vezes maior do que sua carteira de títulos. No Bradesco essa relação é de 084 e no Itaú-Unibanco 17.

Na Caixa apesar da expansão da carteira de crédito ela ainda representa 67% do volume de títulos e valores mobiliários em decorrência da reestruturação realizada em 2001 o que obrigou o banco a absorver notas e letras financeiras do Tesouro. De 2007 para 2008 entretanto a carteira de títulos da Caixa ficou praticamente inalterada. O volume de crédito (60% direcionado) cresceu de R$ 574 bilhões para R$ 818 bilhões. “Isso é o que tem de acontecer. O banco tem de viver de empréstimos e não de papéis“ diz o vice-presidente de Finanças da Caixa Márcio Percival.

A estratégia de priorizar empréstimos tem originalmente uma motivação comercial pois – apesar do risco – possibilita maiores ganhos aos bancos mas também atende aos propósitos políticos do governo Lula que quer um sistema financeiro mais líquido que financie o consumo de massas e faça a economia crescer.

“A estratégia de crescimento do crédito seria implementada no longo prazo com base na perspectiva de queda da taxa de juros mas a crise permitiu que a gente acelerasse aproveitando a letargia dos concorrentes“ resume Tobias do BB.

Isso não significa que essa estratégia comercial seja aplicada sem choques com o governo. Além da expansão do crédito o governo quer que os bancos públicos contribuam para a redução da taxa de juros na ponta enquanto os executivos das instituições pensam no lucro.

Com maior volume de empréstimos entretanto os técnicos dos bancos públicos admitem que é possível reduzir o spread. “O sistema financeiro tem custos elevados mas nada que justifique esse spread“ diz Percival da Caixa. “Precisamos ampliar a concorrência.“
Fonte: O Estado de S.Paulo

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