‘Mas o professor Alexandre Assaf Neto do Instituto Assaf que faz análises financeiras e econômicas alerta que os bancos brasileiros ganharam destaque por motivos equivocados.
O fato de serem pouco alavancados por exemplo elogiado por analistas em contraposição à política de assumir riscos exagerados dos bancos americanos é consequência de uma distorção do mercado brasileiro diz Assaf Neto. Os bancos brasileiros parecem conservadores porque o juro alto lhes permite ganhar dinheiro aplicando em títulos públicos. Mas é uma característica de banco ganhar com a alavancagem afirmou.
Para ele a política de juro elevado é fruto de um período irregular da economia; e os bancos não devem montar sua estratégia com base em uma situação de desequilíbrio. Distorções do mercado validaram políticas erradas. O que era nosso patinho feio virou mérito. Mas isso é fruto de um período irregular acrescentou.
Estudo feito por Assaf Neto com base no balanço dos três maiores bancos brasileiros – Itaú Unibanco Banco do Brasile Bradesco – mostra baixa participação do crédito nos ativos totais apesar do forte crescimento das carteiras em 2008.
O BB é o banco mais alavancado dos três com ativos totais 164 vezes maiores do que o patrimônio líquido. No Bradesco o índice é de 135 vezes; e no Itaú de 99 vezes.
O crescimento médio do crédito nos três bancos foi de 279% em 2008. A maior carteira é a do BB com R$ 1663 bilhões; Itaú Unibanco e Bradesco têm carteiras exatamente iguais de R$ 1334 bilhões cada. Ainda assim a carteira de crédito representou na média 344% dos ativos totais oscilando de 304% no caso do Bradesco a 374% no do BB. Em outras palavras para cada R$ 10000 investidos R$ 3440 estão aplicados em crédito atividade básica do negócio. Para o professor quando os juros caírem mais os bancos terão que dar mais crédito para ter lucro.
Os bancos brasileiros também apresentaram elevada rentabilidade em relação ao patrimônio líquido. Em levantamento feito pela Economatica eles mostraram os maiores retornos entre instituições das Américas no balanço de 2008. O líder da região é o BB com retorno sobre o patrimônio de 325% (324% segundo Assaf Neto); em seguida vem o Bradesco com 236%. Itaú Unibanco com 215% (219% segundo Assaf Neto) fica ligeiramente abaixo do Santander chileno que teve retorno de 218% e foi na região o que mais se aproximou dos brasileiros.
Mas Assaf Neto contrapõe que o elevado retorno do BB é fruto principalmente da baixa participação do capital próprio. Segundo levantamento do Banco Central o patrimônio líquido do Banco do Brasil era de R$ 299 bilhões no fim de 2008 enquanto o do Bradesco era de R$ 47 bilhões e o do Itaú Unibanco R$ 448 bilhões.
Em relação a 2007 o lucro líquido dos três bancos cresceu em média 286%. O destaque foi o crescimento no Banco do Brasil (74%) e a redução do lucro líquido do Bradesco (486%) em 2008. O retorno sobre ativos dos bancos no país é o dobro da média mundial de 1% atingindo 197% na média dos três bancos com 174% no Bradesco 198% no BB e 221% no Itaú Unibanco.
O estudo do Instituto Assaf também avaliou a eficiência dos bancos. As instituições financeiras analisadas utilizaram em média 359% de suas receitas de intermediação financeira para cobrirem as despesas administrativas e de pessoal em 2008. O banco mais eficiente neste indicador gastou 28% das receitas e o menos eficiente o equivalente a 427% das receitas financeiras. A diferença de eficiência entre as duas instituições é grande podendo-se prever a existência de espaço para os bancos ganharem maior margem operacional numa eventual redução do spread avalia Assaf Neto.
Outra forma de se demonstrar a eficiência operacional de uma instituição é calcular quanto cada uma gastou por dia útil em que manteve suas agências funcionando. Em média as instituições financeiras gastaram R$ 816 milhões por dia útil de funcionamento em 2008.
Das receitas financeiras apropriadas em 2008 138% dos recursos foram direcionados em média para cobrir devedores duvidosos. As despesas de pessoal e as despesas administrativas e operacionais consumiram 359% das receitas de intermediação dos bancos.
Os bancos apuraram em 2008 o equivalente a 205% de suas receitas de intermediação na cobrança de serviços e tarifas de seus clientes. As receitas de serviços e tarifas representam em média a 1478% das despesas com pessoal.
As instituições obtiveram em 2008 uma margem líquida 142%. Em outras palavras do total das receitas de intermediação obtidas no exercício restaram 142% na forma de lucro líquido sendo o restante consumido pelos custos e despesas.
Do total da riqueza gerada pelos bancos no exercício de 2008 346% foram destinados à remuneração de pessoal 271% no pagamento de tributos e 383% para remuneração dos acionistas (lucro líquido).
Fonte: Valor Econômico
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