‘Imagine ganhar um salário todo mês sem precisar trabalhar?
O sonho de muitas pessoas está para se tornar realidade em alguns países do mundo que discutem implementar cada um a seu modo variações da chamada Renda Básica Universal (RBU).
Por esse sistema cada cidadão recebe uma quantia fixa por mês determinada pelo Estado independentemente de trabalhar ou não.
A Finlândia por exemplo começa a conduzir neste mês um programa piloto com 2 mil finlandeses pelo qual cada um deles vai ganhar 560 euros (R$ 1.918) mensais.
No Brasil uma lei instituindo a 'renda básica de cidadania' de autoria do ex-senador Eduardo Suplicy (PT-SP) foi aprovada em 2004 mas nunca foi regulamentada.
Governos de vários países vêm discutindo a possibilidade de implementar uma renda básica para todos os cidadãos. Confira aqui algumas experiências ao redor do mundo.
América do Norte Canadá
A partir de março a província de Ontário no Canadá dará início a um projeto piloto de renda mínima a todos os cidadãos estando eles empregados ou não.
O custo do programa chega a US$ 18 milhões (R$ 586 milhões).
O país já havia sido palco de um dos maiores e mais ambiciosos experimentos de renda mínima na América do Norte quando em 1974 os 10 mil habitantes de uma pequena cidade agrícola chamada Dauphin receberam valores mensais sem contrapartidas.
O projeto não durou os quatro anos inicialmente planejados mas a conclusão foi de que o resultado foi promissor.
Estados Unidos
Desde 1982 o Estado americano do Alasca paga a cada um de seus 700 mil habitantes uma espécie de RBU conhecida como Alaska Permanent Fund Dividend (Dividendo do Fundo Permanente do Alasca em tradução livre).
O dinheiro vem dos rendimentos proporcionados por um fundo que investe os royalties do petróleo recebidos pelo Estado.
O valor varia a cada ano. Em 2016 foi de US$ 1.022 (R$ 3.320).
Europa Finlândia
O programa piloto para implantar uma renda mínima universal começa a ser testado a partir deste ano.
Em princípio 2 mil finlandeses escolhidos aleatoriamente vão receber cada um 560 euros (R$ 1.918) mensais.
Considerado como o novo modelo de previdência social dos anos 2020 o rendimento básico será livre de impostos e substituiria no futuro todos os auxílios sociais atualmente oferecidos pelo Estado por um único benefício distribuído igualmente para todos.
O plano é testar o experimento neste ano e no próximo e fazer uma avaliação dos resultados em 2019.
O programa pioneiro ─ já que não existe atualmente nenhum sistema puro de renda mínima universal em nenhum lugar do mundo ─ tem o apoio de 70% da população finlandesa.
Alemanha
O Parlamento alemão concluiu que a RBU é "irrealizável" por um número de razões que inclui um provável aumento da imigração a falta de viabilidade para financiá-lo e o fato de que os sistemas previdênciário e tributário do país teriam de ser reconfigurados.
Holanda
Assim como na Finlândia a Holanda dá início neste mês a um experimento de dois anos pelo qual 300 moradores de Utrecht e de outras cidades próximas receberão de 900 euros (R$ 3.079) a 13 mil euros (R$ 4.447) por mês.
Desse grupo 50 pessoas vão receber a renda básica sem qualquer tipo de regulamentação. Ou seja se encontrarem um emprego ou obtiverem qualquer outra fonte de renda poderão somar os dois rendimentos.
O experimento chama-se Weten Wat Werkt ("Saber o que funciona" em tradução livre).
Suíça
Em junho do ano passado eleitores suíços foram às urnas votar em um referendo sobre a implementação de uma renda mínima garantida a todos os habitantes do país mesmo àqueles que não trabalhassem.
A proposta acabou rejeitada pela ampla maioria da população.
O projeto previa estabelecer o pagamento de um salário de 25 mil francos suíços (cerca de R$ 9 mil) por adulto e 625 francos (R$ 2.350) por cada menor de 18 anos.
índiaO Banco Mundial estima que devido à evolução da tecnologia a automatização pode cortar 68% dos empregos na índia.
Por causa disso o Instituto Nacional de Finanças Públicas e Política do país está defendendo a ideia de implementar a RBU como um substituto do sistema de bem estar social que muitos consideram ineficiente e acusam de beneficiar os mais ricos em vez dos mais pobres.
BrasilApesar de aprovada e sancionada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2004 a lei que institui a 'renda básica de cidadania' nunca foi regularizada ─ um dos passos necessários para sua implementação.
Seu principal articulador foi o ex-senador e atual vereador Eduardo Suplicy (PT-SP). O petista dedicou boa parte de sua vida política ao projeto.
De acordo com a lei todos os brasileiros e estrangeiros que moram há pelo menos cinco anos no Brasil devem receber um benefício monetário suficiente para atender às despesas mínimas com alimentação educação e saúde.
Suplicy diz considerar que o programa Bolsa Família é um dos meios para alcançar tal objetivo.
A polêmicaO conceito de uma renda básica universal vem sendo tema de discussão entre filósofos economistas e políticos durante séculos sempre cercado de muita polêmica.
Um dos fundadores dos Estados Unidos o economista britânico Thomas Paine propôs ─ em um ensaio chamado Justiça Agrária de 1797 ─ a tributação de grandes propriedades fundiárias de modo que cada indivíduo recebesse uma "subvenção de capital" que lhe permitiria "fugir à indigência e exercer os direitos declarados universais".
Já em 1853 o filósofo francês François Huet defendia tais transferências de renda sem contrapartidas para todos os jovens adultos que seriam financiadas por impostos sobre heranças e doações.
Mais recentemente economistas de renome como o americano Joseph Stiglitz e o francês Thomas Piketty engrossaram o coro pela aprovação de uma renda mínima universal.
Os partidários do sistema garantem que o benefício reduziria a desigualdade ajudaria os desempregados e quem se dedica a cuidar de familiares sem ser remunerados e equilibraria o aumento da automatização do trabalho.
Por outro lado seus críticos afirmam que o pagamento regular feito pelo Estado desencorajaria as pessoas a trabalhar e assim prejudicaria a economia fomentando a pobreza.
Mas segundo um estudo publicado em 2011 por Evelyn L. Forget professora de Economia da Universidade de Manitoba (Canadá) o pagamento de uma renda básica a todos os cidadãos de Dauphin durante o experimento conduzido na década de 70 reduziu a pobreza e amenizou vários outros problemas socioeconômicos.
Paralelamente em vários países do mundo incluindo muitos latino-americanos há movimentos que pressionam com mais ou menos sucesso para que os salários mínimos se tornem salários dignos.
"A criação do salário mínimo foi uma tentativa de criar um nível básico de ingresso" diz Linda Yueh professora adjunta de Economia na London Business School na Inglaterra.
"A renda básica universal e o salário mínimo digno são ideias similares mas a renda básica vai mais longe pois trata de assegurar que todo mundo tenha um nível mínimo de rendimento para poder viver" acrescenta ela.
Fonte: G1′