‘A queda nos juros básicos da economia está demorando a chegar aos tomadores finais de empréstimos e financiamentos. Embora o Banco Central (BC) tenha reduzido a taxa Selic duas vezes desde outubro os juros cobrados pelos bancos não caem na mesma velocidade. A explicação está no spread bancário que acumulou alta em outubro e em novembro mesmo com a Selic em queda.
O spread bancário é a diferença entre as taxas que as instituições financeiras pagam para captar recursos e as que cobram do cliente final. O indicador divulgado todos os meses pelo BC caiu 04 ponto percentual em novembro. No entanto com o crescimento de 1 ponto percentual registrado em outubro o spread acumula alta de 06 ponto percentual no último trimestre de 2016. A conta abrange apenas as operações de crédito livre feitas com recursos próprios dos bancos excluindo o crédito direcionado concedido com subsídios do governo.
A diferença pode ser observada quando se compara a evolução das taxas usadas na captação e os juros cobrados na concessão de crédito. A taxa média de captação estava em 121% ao ano em novembro segundo os dados mais recentes do BC. Essa é a taxa que os bancos pagam para pegar dinheiro emprestado dos correntistas por meio de aplicações como poupança CDB e fundos de investimento.
Mesmo com a taxa Selic sendo reduzida em 05 ponto percentual – de 1425% para 1375% ao ano – desde outubro a taxa média de captação acumula queda de apenas 01 ponto percentual em outubro e em novembro de 122% para 121% ao ano.
Os juros médios pagos pelos tomadores de empréstimos e financiamento no entanto não tiveram a mesma trajetória e subiram mesmo com a queda da Selic. A taxa média de aplicação como o BC chama os juros dos clientes finais acumula alta de 05 ponto percentual em outubro e em novembro passando de 534% para 539% ao ano no período. O spread – diferença entre as duas taxas – subiu de 412% para 418% ao ano (06 ponto percentual) na mesma comparação.
Contas públicas
Diretor do Banco Central nos anos 80 e no início dos anos 2000 Carlos Eduardo de Freitas diz não estar surpreso com a resistência de o spread bancário cair. Para ele a queda do indicador depende fundamentalmente da capacidade de recuperação da economia e da redução do desequilíbrio nas contas públicas.
“O spread bancário está muito mais relacionado às condições da economia do que aos movimentos da taxa Selic. Enquanto as contas públicas estiverem desequilibradas o spread não vai cair. Ao longo da minha carreira só vi o spread bancário cair na década de 2000 justamente quando o país fazia superávits primários [economia para pagar os juros da dívida pública] elevados” diz.
Abuso
O professor de Finanças Fabio Gallo da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo considera um padrão histórico do setor financeiro manter spreads bancários altos e lucrar em tempos de crise. Segundo ele o comportamento ocorre em todo o planeta mas é agravado pela concentração no setor financeiro brasileiro com poucos bancos concorrendo entre si.
“Os bancos alegam que a inadimplência a tributação e o compulsório [parcela que são obrigados a deixar depositada no Banco Central] são altos no Brasil. Isso é verdade mas não explica inteiramente o spread bancário. A inadimplência está começando a cair. O fato é que os bancos nunca conseguiram justificar plenamente spreads tão altos no Brasil. Em todo o mundo os bancos ganham em tempos de crise. No Brasil também” afirma.
Fonte: Agência Brasil’